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Advogados, negros e brasileiros

Conheça a história pessoal de quem faz parte da nossa equipe.

Advogados são chamados de doutores desde a época do imperador, sendo esta uma profissão valorizada porque traz consigo o ideal utópico de justiça, motivo de orgulho para todos nós profissionais do direito, em especial, para profissionais negros que conseguem inserir-se em um mercado jurídico ainda tão cheio de preconceitos e estereótipos.

No Brasil vivemos um racismo velado, mas que pode ser tão violento quanto em qualquer outro lugar do mundo. Por sermos um povo miscigenado, muitas vezes parece-nos que esta é uma questão periférica, frente a tantos outros problemas sociais que a sociedade brasileira tem de enfrentar. 

Por isso, é tão importante dar visibilidade e voz para todos aqueles que conseguiram trilhar um caminho de sucesso e que também tenham conseguido alcançar o seu lugar na advocacia, independentemente da cor de sua pele – que jamais deveria importar. 

Na Monteiro, nossa equipe de advogados conta com alguns heróis, cujo relato pessoal inspiram e nos fazem ter a certeza de que sua perseverança frente a tantos obstáculos impostos pelo racismo fez com que eles pudessem vencer e hoje compartilhar, com orgulho, o caminho que percorreram para chegar até aqui. 

advogada na Filial Rio de Janeiro, relata um pouco do que é ser mulher, advogada e negra no Brasil:

 

 


Carolina Cardoso

advogada na Filial Rio de Janeiro, relata um pouco do que é ser mulher, advogada e negra no Brasil:

 


 

Durante a minha infância e adolescência não me chamava a atenção o fato de que ser mulher e negra seria relevante no percorrer da minha vida, até que quando eu estudava para prestar o vestibular, a minha professora do ensino médio público me olhou e disse “Você nunca vai cursar uma faculdade” mesmo eu tendo sido escolhida a melhor aluna da minha turma por dois anos seguidos. Essa frase, vindo de quem deveria nos inspirar, foi muito impactante, mas também redobrou meu empenho nos meus estudos, justamente para que um dia eu pudesse combater estes pensamentos preconceituosos através da minha profissão. Os estereótipos sobre a mulher negra ainda perduram nos ambientes da atividade laborativa da advocacia. Posso citar como exemplo, certa vez, quando já inserida no mercado de trabalho e representando uma empresa durante um curso ministrado em uma faculdade de prestigio, fui questionada por outro representante se seria eu a vendedora de picolé. Em outra situação, em que eu estava vestida socialmente, saindo do fórum, fui em direção a um café para comprar água. Quando atendida, fui surpreendida pela abordagem da atendente que me alertou que, pra mim, só serviria água da torneira. Infelizmente, estereótipos raciais e de gênero persistem na profissão da advocacia. Contudo, como Michele Obama, advogada e negra, costuma dizer “Você nunca deve ver os seus desafios como uma desvantagem. Em vez disso, é importante entender que as experiências que você adquire enquanto enfrenta e supera as adversidades é, na verdade, uma das suas maiores vantagens”. Essa citação não podia ser mais precisa, pois acredito que, independente do que passamos, sempre nos fortalecemos nas adversidades. Diferente de muitos negros no Brasil, eu, desde criança, sempre contei com o apoio da minha família, que me incentivou a completar meus estudos e a conquistar o sonho de advogar. Hoje, na Monteiro, tenho a oportunidade de exercer minha profissão com orgulho, mas sei que os desafios não acabaram por aqui. Espero que, compartilhando um pouco da minha história, eu possa encorajar mais pessoas a batalharem pelos seus sonhos e conquistarem seu espaço, em especial, no campo jurídico. Como nos ensina Oprah Winfrey, “precisamos aprender a transformar as nossas feridas em sabedoria”. 


João Carlos Chaves

que atualmente é Coordenador-Geral do setor tributário, carro-chefe do escritório, também compartilha o seu relato:


“Não tenho problema com a minha cor. Os outros que têm”. Essa frase, que não conheço a autoria, ficou gravada em minha mente. Ser negro no Brasil (e no mundo) é tarefa árdua, estando o preconceito, ainda, encravado em nossa cultura. Tive a oportunidade de cursar Direito em uma Universidade particular, recém-inaugurada em Recife/PE. Essa Universidade concedia bolsa integral para funcionários e havia uma vaga disponível. Essa vaga era de porteiro (sem desmerecer a profissão, claro) e aceitei, pois, vi ali a chance de mudar de vida. A chance de um garoto negro, de família menos abastada e do interior de Pernambuco. Durante o primeiro semestre do curso, tudo se resumia a: abrir portão durante o dia, e estudar durante a noite. O professor para quem eu abria o portão e ajudava-o a estacionar o carro, era o mesmo que me ensinava. Nunca me senti inferior por isso, muito menos envergonhado. Encantado com o curso, dediquei-me profundamente e, no segundo semestre, fui selecionado para uma vaga de estagiário em um escritório de advocacia especializado em Direito Tributário. No 7º período, já havia assumido a gerência de uma filial. Me dediquei exclusiva e exaustivamente ao Direito Tributário, sempre com o foco de ser bom no que faço, para não abrir brecha para que a cor da minha pele pudesse interferir em alguma situação, em alguma reunião de debate técnico, ou até em alguma negociação de honorários contratuais. “Seja bom no que faz”, esse era o meu pensamento. O pensamento “seja bom no que faz” não é um preconceito reverso, mas sim uma forma afirmação. Sempre faço questão de dizer, inclusive às minhas filhas: em todos os países que tive oportunidade de conhecer fui “parado” para averiguação. Uma situação que me marcou foi em uma viagem pela Europa. Havia saído de Paris-FRA rumo a Roma-ITA, de ônibus. Eu estava sentado na penúltima fila de um ônibus de turismo de 50 lugares. Na fronteira da Suíça com a Itália, o ônibus foi parado pela polícia. Dois policiais subiram no ônibus, pediram que todos ficassem com o passaporte em mãos e, andando pelo corredor, veio até o final do ônibus e me abordou (o único negro do ônibus e, ainda, no final). Coincidência? Pode ter sido. Mas dentre tantos e tantos brancos, apenas o negro foi “averiguado”. Não é fácil ser negro. Que todo negro possa valorizar as suas características físicas, apresentar atitudes mais afirmativas frente a situações de discriminação. Talvez assim seja possível construir uma sociedade em que as pessoas, sejam elas brancas ou negras, possam desenvolver uma subjetividade aberta para as diferenças, para as especificidades do outro e, em decorrência, uma emocionalidade que as leve a sentir prazer em se deparar com o diferente, sendo esta diferença não uma ameaça por ter uma verdade diversa, mas uma fonte de riqueza, exatamente por ter uma verdade diversa.

 


Leandro Cerqueira

advogado na Filial Brasília, também compartilha seu relato:


 

Trago em mim as marcas do racismo. Negro, de origem pobre e morador de periferia. Nunca enxerguei minha cor como defeito, pelo contrário, motivo de orgulho era (e é) ter estampado no corpo a cor da mulher que se desdobrava nas casas alheias para não deixar faltar o alimento em sua própria casa. No entanto, mesmo com todo esforço, lembro-me de momentos na minha infância em que ficava sentado em uma passarela pedindo dinheiro as pessoas que passavam. Ainda na infância, cheguei a ser impedido, por alguns pais, de brincar com seus filhos. Não entendia o motivo. Certa vez, ouvi a mãe de um coleguinha brigando com ele por estar brincando comigo, ela dizia algo do tipo “não quero ver você brincando com esse negro”, dentre outras depreciações relacionadas a minha cor e condição social. Na adolescência a situação se agravou, os apelidos de cunho racial eram constantes, “tiziu”, “macaco”, “cabelo de bombril”, dentre vários outros. Também comecei a perceber o medo de algumas pessoas quando me viam na rua (isso até hoje percebo), e o desconforto com a minha presença em estabelecimentos diversos (bancos, lojas, mercados). Mas foi também na adolescência que conheci a Cristo, base fundamental para fortalecer a minha fé e não deixar com que atitudes e palavras influenciassem negativamente minha índole. Tracei metas de estudo, mas não poderia deixar de me manter financeiramente, trabalhei em fast food, serviços gerais e telemarketing, trabalhos dignos, aprendi muito, cresci como pessoa e profissional.  No tocante ao Direito, interessei-me durante um curso preparatório para concursos em Brasília, porém não tinha condições financeiras de arcar com o valor da mensalidade. Por esse motivo, estudei muito e consegui uma bolsa integral para cursar a faculdade de Direito. Não foi fácil, em determinado momento, trabalhava de madrugada, estudava pela manhã e estagiava no Tribunal de Contas da União à tarde (muitas vezes almoçava dentro do ônibus entre um percurso e outro). Tinha certeza de que alcançaria meus sonhos, que um dia mudaria minha realidade e ajudaria minha família. Concluí a graduação e fui aprovado na prova da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Hoje, mesmo sendo jovem advogado, tenho orgulho de fazer parte de uma das maiores bancas de advocacia do Brasil. Cresci ouvindo pessoas me dizendo que eu não era capaz, me fazendo achar que era inferior. Tenho para mim que o racismo é um mal que te consome aos poucos, mas só se o aceitar. Eu não aceitei! Cabe a você aceitar ou não. A sua cor de pele, os seus traços, a sua raiz não define sua capacidade, tampouco seu caráter.

 


Na Monteiro e Monteiro Advogados, nos orgulhamos de trabalhar com heróis como Carolina, João e Leandro. Contudo, sabemos que eles são exceção e que, infelizmente, muitos ainda se perdem no meio do caminho por falta de oportunidades e menos do que isso, por falta de respeito. Sabemos que a advocacia brasileira ainda impõe importantes desafios à inclusão e ascensão profissional de negros, o que nos entristece profundamente, e motiva a iniciativa de compartilhar estes relatos para que possamos respeitar a história de cada um destes heróis e inspirar as futuras gerações.

 


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